junho 24, 2025

Gestão Deficiente: Mais de 70% das SAFs Não Atendem aos Critérios de Qualificação para o Brasileirão.

Levantamento expõe fragilidade na governança e gestão das Sociedades Anônimas do Futebol, revelando riscos para a sustentabilidade do modelo no Brasil.

O modelo das Sociedades Anônimas do Futebol (SAF), criado como alternativa para profissionalizar e salvar clubes endividados, enfrenta um momento crítico no Brasil. Um estudo recente revelou que mais de 70% das SAFs atualmente em atividade não atendem aos critérios mínimos de qualificação para disputar o Campeonato Brasileiro. O dado levanta um alerta para a fragilidade na gestão e na governança dessas entidades, colocando em xeque a eficácia do modelo que prometia revolucionar o futebol nacional.

A análise, conduzida por especialistas em gestão esportiva e finanças, avaliou requisitos como transparência fiscal, equilíbrio financeiro, estrutura administrativa e regularidade trabalhista. A maior parte das SAFs avaliadas falhou em ao menos dois desses aspectos. Isso mostra que, embora muitas dessas organizações tenham surgido com promessas de modernização, ainda operam com práticas ultrapassadas ou desorganizadas.

A profissionalização, que deveria ser o pilar central das SAFs, muitas vezes fica em segundo plano diante da urgência por resultados esportivos. Dirigentes e investidores priorizam contratações e campanhas de marketing, enquanto aspectos fundamentais da governança, como compliance, planejamento estratégico e gestão de riscos, são deixados de lado. Esse desequilíbrio tem gerado desconfiança entre patrocinadores, torcedores e até mesmo entre órgãos reguladores.

De acordo com especialistas, o modelo de SAF exige muito mais do que a transformação jurídica dos clubes. É preciso implementar uma gestão empresarial eficiente, com metas claras, auditorias constantes, conselhos administrativos ativos e uma cultura organizacional voltada para resultados sustentáveis a longo prazo. No entanto, o levantamento mostra que poucos clubes realmente aplicam esses princípios.

Outro ponto crítico identificado é a falta de fiscalização e padronização nos critérios de avaliação das SAFs por parte das entidades que regem o futebol brasileiro. A ausência de um sistema rígido de controle contribui para que muitas organizações operem à margem das boas práticas, burlando regras sem consequências imediatas, o que prejudica a competitividade e a credibilidade do campeonato.

A situação preocupa ainda mais diante do novo regulamento da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), que exige que todos os clubes da Série A e B estejam com a documentação e obrigações financeiras em dia para participarem das competições. Com mais de 70% das SAFs fora dos padrões, o risco de exclusões ou sanções se torna real, podendo impactar diretamente o calendário, os contratos de transmissão e o equilíbrio técnico das competições.

O cenário também levanta dúvidas sobre a capacidade das SAFs em atrair investimentos externos. Em mercados mais maduros, como o europeu, fundos de investimento só aplicam recursos em clubes com estrutura de governança robusta e histórico de responsabilidade fiscal. No Brasil, a falta de confiança na gestão esportiva pode afastar capital estrangeiro, limitando o crescimento do modelo.

Ainda assim, há exemplos positivos que mostram que o caminho é possível. SAFs como a do Cruzeiro e do Botafogo, apesar de enfrentarem desafios, deram passos importantes na profissionalização de suas operações, com equipes de gestão dedicadas, maior transparência nos processos e foco na sustentabilidade financeira. Esses casos podem servir de referência para outras organizações em processo de transição.

A CBF e o Governo Federal também começam a discutir formas de reforçar a regulamentação das SAFs, propondo mecanismos de controle mais rígidos, incentivos à boa gestão e penalidades mais severas para casos de má conduta administrativa. A expectativa é que esse novo ambiente regulatório possa estimular práticas mais responsáveis e atrativas para investidores e torcedores.

Enquanto isso, clubes tradicionais que ainda não se tornaram SAFs observam com cautela os tropeços das primeiras experiências. Muitos aguardam resultados mais concretos antes de aderirem ao modelo, temendo que a mudança de natureza jurídica não seja suficiente para resolver os problemas crônicos do futebol brasileiro.

A revelação de que mais de 70% das SAFs não estão aptas para o Brasileirão deve servir de alerta para todo o ecossistema esportivo nacional. A profissionalização do futebol exige mais do que marketing e promessas: requer gestão sólida, planejamento e responsabilidade. Caso contrário, o risco de transformar a salvação dos clubes em mais um capítulo de instabilidade no futebol brasileiro é cada vez maior.

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