Ansiedade, burnout e depressão se tornaram parte da rotina de muitos profissionais entre 25 e 40 anos. Pressão por performance, instabilidade econômica e excesso de cobrança interna e externa são os principais gatilhos.
Os millennials — geração nascida entre o início dos anos 1980 e meados dos anos 1990 — estão no auge da vida profissional, ocupando cargos de liderança, empreendendo ou consolidando suas carreiras. No entanto, um número crescente de estudos, relatos e indicadores aponta um problema grave: essa é também a geração que mais sofre com transtornos como ansiedade, burnout e depressão no ambiente de trabalho.
Diferentemente das gerações anteriores, os millennials cresceram em um mundo em constante transformação digital, foram educados para buscar excelência e sucesso rápido, e chegaram à vida adulta em um cenário de instabilidade econômica, crises políticas e alta competitividade. Essa combinação criou uma pressão invisível, mas constante, que afeta diretamente a saúde mental.
O mundo corporativo, por sua vez, ainda não se adaptou completamente às novas demandas dessa geração. Muitos ambientes mantêm culturas rígidas, exigem disponibilidade 24/7 e confundem produtividade com hiperconexão. Em vez de promover equilíbrio, oferecem benefícios superficiais e ignoram os sinais claros de esgotamento entre seus colaboradores.
O burnout, que já é classificado pela OMS como um fenômeno ocupacional, se tornou praticamente um diagnóstico comum entre os millennials. Longas jornadas, metas agressivas, medo de perder o emprego e ausência de apoio emocional dentro das empresas são fatores recorrentes que alimentam esse ciclo. E quando o corpo para, muitas vezes já é tarde.
A ansiedade também se intensifica em um cenário de insegurança constante. O medo de não dar conta, de ser substituído, de não estar “à altura” ou de não alcançar padrões impostos pelas redes sociais é um gatilho emocional que afeta diretamente o rendimento e a autoestima profissional. Muitos sofrem calados, tentando sustentar uma imagem de controle enquanto vivem em colapso interno.
A depressão, por sua vez, aparece de forma silenciosa, muitas vezes mascarada por produtividade forçada. Ela se instala no esvaziamento emocional, na perda de propósito, na falta de energia para realizar tarefas que antes eram simples. E, infelizmente, ainda é tratada como fraqueza em muitos ambientes corporativos — quando deveria ser compreendida como um sinal de alerta urgente.
A responsabilidade da gestão nesse cenário é grande. Líderes e empresas que não olham para a saúde emocional dos seus colaboradores correm o risco de perder talentos, reduzir sua produtividade e comprometer sua reputação no mercado. A geração millennial valoriza propósito, equilíbrio e ambientes acolhedores — e tende a deixar rapidamente organizações que não oferecem isso.
Felizmente, algumas empresas já estão revendo suas práticas. Iniciativas como semanas de saúde mental, pausas remuneradas, programas de escuta ativa e gestores treinados em empatia estão se tornando mais comuns. No entanto, ainda é pouco. O problema exige mudanças estruturais na forma como se enxerga trabalho, desempenho e bem-estar.
O estigma em torno da terapia e do autocuidado também precisa ser combatido. Incentivar que colaboradores procurem ajuda profissional, que falem sobre seus limites e que estabeleçam fronteiras claras entre vida pessoal e profissional é essencial. E isso deve vir do topo — líderes que normalizam o cuidado com a saúde mental abrem espaço para uma cultura mais saudável.
A geração millennial não quer menos responsabilidade ela quer condições humanas para lidar com as responsabilidades que tem. Isso inclui flexibilidade, transparência, comunicação respeitosa e tempo de descanso real. E, acima de tudo, reconhecimento pelo que entregam, sem precisar sacrificar a própria sanidade.
Cabe às lideranças ouvirem esse pedido de socorro. Não com ações pontuais ou discursos prontos, mas com mudanças reais de cultura, com mais escuta, apoio e respeito à individualidade. Empresas que cuidam das pessoas constroem equipes mais engajadas, leais e produtivas.
Se a exaustão virou regra, é porque há algo de errado no modelo. Os millennials estão pedindo socorro — e o futuro do trabalho depende da capacidade das organizações de responder com empatia, estratégia e coragem para mudar.