junho 25, 2025

Lucro recorde e calote em alta: números do Nubank expõem dilema da expansão.

Banco digital dobra lucro no 1º trimestre de 2025, mas vê inadimplência crescer em meio ao avanço agressivo do crédito.

O Nubank divulgou nesta semana os resultados do primeiro trimestre de 2025. A fintech registrou lucro líquido de US$ 395 milhões, alta de 110% em relação ao mesmo período do ano passado. O número consolida o melhor início de ano desde a fundação da empresa, em 2013.

Com atuação crescente no Brasil, no México e na Colômbia, o banco digital ampliou sua base de clientes para 98 milhões, sendo 85 milhões apenas no Brasil. A receita total do período somou US$ 2,7 bilhões, impulsionada pela expansão das operações de crédito e serviços financeiros.

Apesar do desempenho positivo nas linhas principais do balanço, o avanço da inadimplência chamou atenção. A taxa de calotes acima de 90 dias subiu para 6,4%, contra 5,7% no trimestre anterior. O índice é superior à média dos grandes bancos tradicionais.

A elevação da inadimplência foi explicada pela diretoria como reflexo da inclusão de novos clientes com menor histórico de crédito. A fintech também tem apostado em produtos mais complexos, como financiamento de bens e linhas de crédito pessoal, considerados de maior risco.

Na avaliação de analistas do mercado, o desempenho reflete uma estratégia agressiva de crescimento, mas que exige atenção redobrada quanto à qualidade da carteira. A busca por rentabilidade vem acompanhada do desafio de manter o controle do risco de crédito.

A carteira de crédito total atingiu US$ 21 bilhões, com crescimento de 29% em doze meses. Desse total, o crédito pessoal representa 41%, enquanto o cartão de crédito responde por 53%. O restante vem de empréstimos para pequenas empresas e outros produtos.

O índice de cobertura, que mostra a capacidade do banco de absorver perdas com calotes, caiu de 174% para 161% no trimestre. Isso indica que a empresa precisou usar parte das provisões para lidar com a inadimplência crescente.

Segundo o CEO e cofundador, David Vélez, o crescimento do lucro é fruto da maturidade do modelo de negócios. “Nosso foco é manter um equilíbrio entre crescimento e rentabilidade sustentável”, afirmou, em comunicado divulgado aos investidores.

A reação do mercado foi mista. As ações do Nubank subiram 3,2% após o anúncio do lucro, mas perderam força após analistas apontarem preocupações com a inadimplência. Alguns bancos revisaram suas recomendações de compra para manter.

Para especialistas, o banco ainda opera com indicadores saudáveis, mas o cenário econômico impõe cautela. O aumento do desemprego no Brasil e o endividamento das famílias elevam o risco de inadimplência no setor financeiro como um todo.

A empresa reforçou que segue com planos de expansão na América Latina e que está investindo em inteligência artificial para aprimorar seus modelos de análise de risco. “Estamos confiantes em nossa capacidade de navegar esse ciclo com responsabilidade”, afirmou Vélez.

Apesar dos desafios, o Nubank reafirmou a meta de atingir 100 milhões de clientes até o fim do ano. A aposta em inclusão financeira e tarifas baixas continua sendo o diferencial da marca em relação aos bancos tradicionais.

Com capital aberto na Bolsa de Nova York e também listado no Brasil, o banco digital se tornou uma das principais referências em inovação no setor financeiro latino-americano. O lucro recorde reforça esse papel, mesmo diante das incertezas.

O relatório completo dos resultados está disponível no site da empresa e foi protocolado junto à SEC, a Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos. O documento traz detalhes sobre as operações nos diferentes países onde o banco atua.

O desempenho do Nubank será um dos destaques do setor financeiro no primeiro semestre, com impactos nas estratégias dos concorrentes e na percepção dos investidores sobre bancos digitais. A tendência é de uma disputa cada vez mais acirrada pelo cliente de baixa renda.