Especialistas reforçam que alcançar metas climáticas exigirá planejamento rigoroso, governança integrada e financiamento sustentável em escala inédita.
A transição energética global exigirá cerca de 7,3 trilhões de dólares em investimentos até 2030. O dado, apresentado no painel de encerramento do fórum “COP30 – O que o Brasil deve entregar ao mundo”, reflete o tamanho do desafio para governos, empresas e instituições financeiras que buscam cumprir as metas de descarbonização e acelerar a economia verde.
O volume estimado de investimentos necessários evidencia que o sucesso da transição não dependerá apenas de tecnologia, mas sobretudo de gestão eficiente, planejamento estratégico e articulação multissetorial. A revolução energética, segundo os especialistas, exige governança robusta e capacidade de execução em escala.
Com o Brasil sediando a COP30 em 2025, em Belém (PA), cresce a pressão para que o país assuma protagonismo não apenas ambiental, mas também na articulação de modelos de financiamento inclusivos, transparentes e compatíveis com as realidades regionais.
O painel reuniu representantes do setor privado, bancos multilaterais, agências de fomento e autoridades públicas. Todos concordaram que será necessário repensar os modelos tradicionais de financiamento para projetos sustentáveis. A descentralização energética e as energias renováveis, como solar, eólica, biomassa e hidrogênio verde, devem ocupar lugar central.
No entanto, para que esses setores avancem, é indispensável uma estrutura de gestão de risco bem definida, planejamento de longo prazo e ambiente regulatório estável. “Não basta vontade política. É preciso capacidade técnica, coordenação entre entes federativos e mecanismos de governança claros”, disse um dos painelistas.
Um dos principais desafios está em mobilizar capital privado para projetos de impacto. Para isso, é necessário dar garantias, mitigar riscos e criar instrumentos financeiros que tornem os projetos atrativos — sobretudo em países em desenvolvimento.
No Brasil, o Plano de Transição Ecológica do governo federal e as diretrizes da nova política industrial verde são exemplos de caminhos promissores, mas que ainda carecem de execução efetiva e métricas claras de monitoramento. A gestão desses programas será fundamental para sua credibilidade.
O papel dos gestores públicos e privados será crucial na definição de prioridades, no acompanhamento de indicadores e na prestação de contas sobre metas e resultados. A falta de coordenação ou de mecanismos de transparência pode comprometer não só os projetos em si, mas a imagem do país no cenário internacional.
Outro ponto debatido foi a importância da capacitação de pessoas e lideranças locais. Sem mão de obra qualificada e gestores preparados para conduzir projetos sustentáveis, mesmo os melhores planos tendem a fracassar. A formação profissional e técnica precisa estar no centro das estratégias nacionais e regionais.
No setor empresarial, cresce a consciência de que investir em energia limpa não é apenas uma questão de reputação, mas de competitividade a médio e longo prazo. Empresas que não se adaptarem à nova lógica de mercado — orientada por critérios ESG — tendem a perder espaço.
A gestão eficiente da transição energética também envolve a questão social. Para ser justa, ela precisa contemplar inclusão, geração de emprego e redução de desigualdades. A agenda climática não pode ser dissociada da agenda de desenvolvimento.
O Brasil, por sua matriz energética majoritariamente limpa e potencial para liderar a produção de biocombustíveis, hidrogênio verde e tecnologias sustentáveis, pode se tornar uma potência verde. Mas para isso, precisa investir pesado em governança, controle de metas e eficiência na execução.
Os trilhões necessários até 2030 não são apenas cifras: representam a urgência de uma mudança estrutural profunda. A boa gestão será a diferença entre uma promessa de futuro e uma entrega concreta para o planeta.