junho 24, 2025

Gestão de Crises em Xeque: Governo Adia CPMI e Fortalece Narrativa de Golpe do INSS em Ano Eleitoral.

Ao postergar a instalação da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito, Planalto corre risco de perder o controle da narrativa e prejudicar a articulação política antes das eleições.

O adiamento da instalação da CPMI que investigará o suposto esquema de fraudes no INSS colocou o governo Lula em posição delicada diante da opinião pública e do Congresso. A gestão da crise, até o momento, tem sido marcada por hesitação política, comunicação frágil e ausência de estratégia clara de contenção narrativa.

O caso, que envolve suspeitas de fraudes bilionárias em concessões de benefícios previdenciários, ganhou tração na oposição, que agora tenta associar o escândalo diretamente ao governo federal — e, sobretudo, ao Partido dos Trabalhadores — em pleno ano eleitoral. A demora do Planalto em conduzir a reação pode ter implicações profundas na gestão da imagem institucional.

De acordo com analistas políticos, quanto mais o governo empurra a instalação da CPMI, mais tempo oferece para que o tema se cristalize como símbolo de suposta corrupção e má gestão. Do ponto de vista da governança pública, a falta de iniciativa em liderar o processo investigativo pode sugerir omissão ou tentativa de abafamento.

Setores aliados ao governo defendem que o adiamento é parte de uma estratégia de controle político, com o objetivo de conter danos até que os fatos estejam mais organizados internamente. No entanto, críticos alertam que essa abordagem pode ter efeito contrário: deixar o espaço livre para a oposição moldar a narrativa.

A gestão de crise, em momentos como este, exige resposta rápida, apuração transparente e capacidade de articulação. Qualquer sinal de lentidão ou descoordenação tende a ser interpretado como fragilidade ou conivência. E isso se torna ainda mais grave quando o tema é sensível ao bolso e à confiança do eleitorado.

A narrativa do “golpe do INSS” já vem sendo usada por pré-candidatos oposicionistas, que mencionam o caso em agendas públicas, redes sociais e inserções partidárias. A ideia de um governo leniente com fraudes pode afetar especialmente o eleitor de classe média e idosos, públicos que têm sensibilidade com a integridade dos benefícios sociais.

Fontes do Congresso apontam que a base governista está dividida: parte quer instalar a CPMI de forma imediata para “desarmar a bomba”, enquanto outra ala teme o desgaste midiático de semanas de exposição negativa. Essa indecisão interna escancara falhas na gestão política estratégica do Palácio do Planalto.

Parlamentares da oposição, por sua vez, aceleram a coleta de assinaturas e pressionam para que a CPMI seja instalada já nas próximas semanas. O Planalto tenta ganhar tempo e ainda não sinalizou uma data concreta, o que aumenta a tensão nos bastidores.

O episódio revela também um ponto frágil da atual administração: a ausência de uma estrutura de governança integrada de crises, que articule comunicação institucional, inteligência política e resposta técnica. A lentidão em reconhecer o dano potencial e agir proativamente é sintoma de desorganização estratégica.

A Controladoria-Geral da União (CGU) e o Ministério da Previdência já anunciaram auditorias internas, mas a comunicação dessas ações foi considerada insuficiente para conter o impacto político do caso. Para especialistas, a gestão da reputação pública exige uma narrativa proativa, e não apenas reativa.

Se a CPMI for instalada sob pressão externa, o governo corre o risco de ter menos controle sobre sua composição e dinâmica, o que pode ampliar o desgaste. A melhor resposta teria sido assumir o protagonismo das investigações desde o início, demonstrando transparência e comando.

Agora, o Planalto precisa redesenhar sua estratégia. Adotar uma postura de colaboração total com o Legislativo e reforçar os canais de comunicação com a sociedade são medidas mínimas para tentar conter os danos. Além disso, é fundamental blindar o tema eleitoralmente, separando os atos ilícitos de qualquer vínculo direto com o núcleo governamental.

A próxima semana deve ser decisiva para o desfecho da instalação da CPMI. A forma como o governo irá gerenciar esse processo será uma espécie de teste de estresse para sua capacidade de articulação e resposta em cenário de crise institucional.

Em tempos de desgaste político acelerado pelas redes sociais, cada dia de silêncio estratégico pode custar caro. A governança eficiente exige liderança, clareza e ação — mesmo em meio ao fogo cruzado.